TP TRIATHLON

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DOCA, MOTA, NELINHO E AZIN

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

20 mil por 3 minutos


"Eu preciso diminuir o meu tempo de pedal em 3 minutos pra pegar a vaga no IM do Hawaii. Tenho 20 mil reais disponíveis para investir em uma bike e par de rodas que me façam atingir esse objetivo".

Embora eu nunca tenha ouvido nada exatamente assim, essa frase resume várias outras, ouvidas com bastante freqüência. São quase que súplicas, de gente que leva o esporte muito a sério, treina duro, já tem equipamentos muito bons, e precisa de um pouco mais para conseguir pulverizar aqueles minutinhos que o (a) separam do Olimpo Havaiano.

Até algum tempo atrás, eu ouvia uma pergunta dessas e ficava coçando a cabeça, tentando encontrar um par de rodas um pouco melhor, um quadro um pouco mais aero, ou melhorar o fit do(a) atleta. E no final das contas, era obrigado a dizer que a menos que essa pessoa estivesse disposta a ARRISCAR seu dinheiro em uma solução alternativa, não havia nada que pudesse ser feito a nível de equipamento ou posicionamento para atingir o objetivo proposto - pelo menos não dentro de um contexto honesto.

Aí o atleta seguia adiante, satisfeito por não ter sido enrolado, mas ao mesmo tempo frustrado por ter encontrado uma resposta mas não uma solução. E eu continuava coçando a cabeça, pensando onde poderia estar essa solução. Se por um lado toda essa coçeira me deixou, literalmente, careca, a solucionática da problemática apareceu. E ela não estava no equipamento, que em 99% desses casos já é muito bom, nem na dedicação do atleta - ninguém chega a minutos de uma vaga para Kona cortando caminho em treinos.

Me parece que a maior parte, senão a totalidade dessa solução está no treinamento. E agora vem a parte que dói: o triatleta em geral não sabe pedalar. Desconhece a técnica, e acaba assim dissipando energia; não faz o devido aquecimento /desaquecimento, e fica sujeito à lesões; confunde força com potência (ou, pior, desconhece a importância de ambos), e acha que está pedalando quando na realidade faz passeio ciclístico; acha que o tamanho de pedivela ideal é 175mm, mesmo que tenha 1,60; valoriza muito a quantidade de quilômetros rodados, sem se preocupar com a qualidade do que é feito em cada quilômetro; acha que se o treino não tiver tiro não é treino, e acaba se desgastando prematuramente; e simplesmente ignora aquela coroa do lado de dentro, bem como a extremidade externa do cassete. Estupidez? Não. Falta de orientação.

De antemão, já aviso que não sou técnico de ninguém - não tenho competência nem conhecimento para tal. Mas tenho contato freqüente com técnicos e atletas, e tempo suficiente em cima de uma bicicleta, tanto em meio a triatletas como ciclistas, para olhar uma planilha de treinamento e saber se o conteúdo da mesma pode ou não transformar um grande empenho em alto desempenho. Via de regra a resposta é não. A maioria dessas planilhas é básica, e cumpre muito bem o papel de capacitar o triatleta a percorrer grandes distâncias exigindo um mínimo de recursos técnicos e fisiológicos, mas raramente o permite percorrer essa distância no menor tempo e com o menor consumo de energia possíveis.

Assim, se o intuito é pedalar com mais eficiência e tirar alguns minutos do tempo total de pedal, eu sugiro buscar uma assessoria ou um técnico cuja planilha de ciclismo tenha (mas não necessariamente se limite a)os seguintes ingredientes:

- técnica de pedalada: desde exercícios de perna isolada, passando por noções de posicionamento, até como sentar-se corretamente na bicicleta para não fica parecendo um João Bobo, balançando de um lado para o outro enquanto pedala;
- aquecimento e desaquecimento com giro leve: impressionante como em vários pelotões de triatletas, a largada do pedal já é feita em transmissão pesada (53x17 pra mais), e passo acelerado. É um tiro longo do começo ao fim. Depois as lesões aparecem, e ninguém sabe de onde vem...
- periodização que inclua etapas de volume com baixa intensidade, cadência alta, força, e finalmente potência, bem como noções do que cada um desses componentes produz a nível de resultado final;
- detalhamento das relações de transmissão a serem utilizadas (por ex: subida forte com 53x19, ou giro leve com 39x17). As nossas bikes tem normalmente 20 marchas, e é um desperdício usar somente 2 ou 3 delas - só que para usá-las, é necessário conhecê-las.
- sessões de pedal 4x por semana, podendo uma delas ser série de potência no rolo, com 1h de duração no máximo; 1 hora bem feita no rolo vale mais do que um passeio cicístico de 4horas, que é o que muitos acabam fazendo;
- noções de comportamento dentro do pelotão: aqui não se trata de rendimento, mas de segurança. Poucas coisas são mais perigosas que um pelotão de triatletas rodando a 40km por hora, sem noções de movimentação e posicionamento.
- utilização de cadência, frequência cardíaca e potência durante os treinos. O cruzamento entre esses dados é o referencial ideal; porém, se for optar por um somente, potência é o melhor.

Tenho certeza absoluta que com uma planilha de treinamento que inclua e aplique esses conteúdos (e outros, que um bom técnico conheça e eu desconheço), o objetivo de ir mais rápido no pedal será cumprido, e não somente por bem menos que 20 mil reais, como com um ganho de tempo muito, muito maior que 3 minutos.
Postado no blog maxconabikes@blogspot.com

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